Noite clara

Esse meu amigo regularmente organiza um acampamento em uma região de relevo ímpar, com pequenas colinas, grande área aberta florida e um pequeno rabisco de água, aquarelando a paisagem. O público do lugar é muito seleto, apenas os mais próximos desse meu amigo são convidados.
"um pequeno rabisco de água, aquarelando a paisagem"

Naquela noite de verão, céu limpo, estávamos em cerca de onze pessoas, alguns sentados, outros caminhando esperando o luar mágico, de que meu amigo tanto falava. Em um lugar deserto como aquele, bem longe das grandes cidades, o céu costuma ser muito estrelado.



Após um modesto banquete, enquanto eu caminhava e conversava com Carmem, notei que a claridade do pôr do sol não diminuía, embora o sol continuasse a se por diante de nós. Era a lua! Sim, a lua vermelha logo atrás de nós, que parecia tão grande, umas duas vezes o tamanho normal!

Nos deitamos ali mesmo no gramado, observando tamanha beleza com espanto. Não sei explicar como tudo isso começou, mas a lua se movia rapidamente, errante como um inseto gigantesco. Quando me dei conta, ela estava menor, mas havia cerca de seis luas, dançando um lindo balé, todas vestidas de escarlate com o lindo manto negro estrelado ao fundo.

Minha mente preenchia o silêncio com uma ária qualquer de uma ópera que vi há muito tempo. Quando tudo pareceu acalmar, do gramado mais alto saíam centenas de pirilampos, verdes, amarelos e vermelhos, como que respondendo a um chamado, voaram em direção às luas. Todos estavam atônitos e o horizonte já mostrava uma linha de luz na direção de onde logo viria o sol, fechando com sua claridade a cortina do palco celeste.


"havia um mercado na ruela onde passamos na ida"
Quando saímos de lá havia um mercado na ruela onde passamos na ida, com tendas que vendiam tecidos diversos, roupas, grãos e frutas. Carmem me disse que comprara ali os melhores tecidos e especiarias da melhor qualidade, mas que para não ser intimidada com preços exorbitantes, teve de se passar por uma camponesa da região dos alpes. O povo dali não gosta de turistas dos centros urbanos, assaltos aos turistas são frequentes.

Quando parei para ver um tecido púrpura que me chamou a atenção, notei ao meu lado uma pessoa com uma capa que lhe cobria o corpo todo, uma bolsa de couro no ombro e um discreto perfume maravilhoso. Não esperava ver um rosto familiar num lugar tão exótico, ela também não conseguiu disfarçar a surpresa. Quando eu abri a boca prestes a balbuciar alguma coisa ela me deu um tapa no rosto, virou as costas e se foi rapidamente entre a multidão. Fiquei com a impressão de que não era apenas por eu a ter reconhecido sob aquela roupa toda, eu precisava encontrá-la novamente.

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