Casual


Baldeação do trem é sempre um tédio. Mas numa noite linda de lua quarto-crescente, parece bem mais convidativo. Ele se recosta no parapeito do terceiro andar de um café, e observa a lua por entre umas poucas nuvens logo acima dos prédios. A iluminação no café parece um tanto remota naquele parapeito, e a luz mais forte é a que vem de cima do prédio. No andar debaixo, cuja varanda se estenda uns dois metros mais próximo à rua, uma moça debruçada sobra o parapeito chama a atenção pelo volume de sua bagagem aos seus pés.

Alguns segundos foram perdidos observando a moça do andar debaixo, que estava bem à vontade olhando pra frente. Ele nem notou quando a lua se escondeu por entre as nuvens. Após o fim do espetáculo lunar, a moça passou a observar as pessoas na praça à frente do café. Dois passinhos para a esquerda e a sombra dele estava oculta sob a dela. Certamente ela notou, mas para não dar pontinhos para o dono da sobra ela se recusou a olhar para trás e continuou vendo as pessoas na praça.

Ah, ele não resistiu! Pôs-se a fazer movimentos engraçados com os braços, de modo que na sombra parecessem os dela. Penteava o cabelo, batia continência, mandava beijos... mas quando ele fez que tocava guitarra ela não se conteve e soltou um riso. Vitória! Ela olha para cima afim de ver quem é o doido, e ele se dá conta de algo "Por que eu comecei com isso? Pirei!"

A reação dela foi de espanto, havia algo de incomum no rapaz do andar de cima, mas a luz que lhe ofuscava não favorecia uma análise. Mas de algo não restou duvida, ele tinha senso de humor. Viu ele fazer um sinal pedindo que o esperasse ali, e passou a pensar se dava uma chance para o rapaz. Podia ser um tolo oportunista qualquer, ou um bom rapaz com senso de humor e criatividade. Como saber? Mas será que valia a pena esperar pra ver? Já está cansada de caras assim em sua vida. Mas como muitas mulheres, a jovem pensou demais e não teve tempo de agir, quando se deu conta o topete do rapaz já figurava desvencilhando-se das pessoas no interior do café com sua bagagem em mãos.

Pisou no pé de duas senhoras, e parou para pedir desculpas, mas atravessou o café arfando, com um objetivo à sua frente. Ao descer os degraus atá o andar debaixo não pensava em outra coisa, senão em como seria o rosto da jovem de cabelos longos envolta na escuridão que havia no parapeito. Ao adentrar o salão e visualizá-la novamente de frente à praça suas mãos suavam ainda mais. Não que já não tivesse abordado moças desconhecidas antes, mas tudo era novidade outra vez.

Decidida a não decidir mais nada, as pessoas na rua não eram capazes de distraí-la do que ela sabia se aproximar aos poucos, sem fazer som notável, a sobra do rapaz desconhecido mais uma vez se juntava à dela, mas desta vez na mesma proporção. Era o momento, ela se virou, mas não foram os olhos do rapaz que lhe cativaram a atenção no primeiro olhar...

Acompanhando aqueles lindos cabelos, veio um olhar muito complexo em sua direção. Na verdade ele não se ateve muito ao olhar, depois de notar um rosto familiar e aquela manchinha no decote, não teve duvidas: era com ela que ele iria pegar o trem da meia-noite!

Veja a música oculta aqui

Um comentário:

  1. quão extraordinária é a criatividade do ser humano!
    as palavras se encontram e formam um poema.
    um poema que encanta os nossos corações,que nos fascina, que encanta.
    criatividade única,imensurável com certeza.

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